Até onde você iria para aumentar sua produtividade?
- Virginia Motta
- 16 de mai. de 2024
- 3 min de leitura
E mais uma vez a Tesla chama a atenção nas redes sociais. Essa notícia não teve tanto destaque e comentários nas redes, mas me causou uma profunda reflexão sobre o alinhamento das expectativas da empresa e do funcionário, especialmente, sobre sua produtividade.

Resumindo a história, um funcionário da Tesla estava tão comprometido e dedicado com o seu trabalho (eu diria até obcecado) que abriu mão da sua vida vida pessoal e conforto para demonstrar que faria qualquer coisa para aumentar sua produtividade, bem como corresponder às expectativas da empresa.
Ele não poupou sacrifícios: passou a dormir no carro para evitar perder tempo no trajeto da casa para empresa, usava as dependências da fábrica para se alimentar e fazer a higiene pessoal, enfim, abriu mão de todo o seu conforto para se dedicar à empresa.
Mesmo com todos esses sacrifícios, algum tempo depois a Tesla fez uma redução de 10% do seu quadro de colaboradores e ele foi um dos que recebeu o e-mail comunicando que não faria mais parte do time. A forma que realizaram o desligamento foi brutal: cancelaram os crachás e o sistema de segurança recusou a entrada dos 14 mil colaboradores que foram demitidos. Junto ao cancelamento, todos receberam um pacote de rescisão e um email que dizia que como parte da reestruturação da empresa, "infelizmente, sua posição foi elimanda".
Não vou voltar ao assunto sobre a desumanização dos processos de demissão em massa, mas o que me chama atenção nessa história é: por que "raios" esse colaborador foi dormir no carro e abriu mão completamente do seu conforto e vida pessoal por um emprego? Olhando de fora é fácil julgar, mas o que eu gostaria mesmo é de um dia poder sentar com ele e perguntar se alguém pediu isso, se ele se sentiu pressionado a demonstrar esse comprometimento com a empresa de forma extrema, etc. Gostaria de entender melhor suas motivações para tomar tal atitude.
Nunca conheci uma empresa que exigisse de um funcionário tal atitude para ele ascender na carreira, então, me pergunto, será que as expectativas estavam alinhadas? Será que as pessoas não estão partindo para um extremismo para ter o emprego dos sonhos? O quanto isso é saudável para as pessoas? O que o RH e o líder dessa pessoa poderiam ter feito para que ele não chegasse a esse ponto?
Bom, só conhecemos um lado da história e não tivemos a oportunidade de aprofundar um pouco mais para entendê-la, mas me preocupa imensamente ter conhecimento desse tipo de situação e ainda ver comentários sobre como a empresa foi "ingrata" por dispensar um funcionário tão dedicado, que abriu mão de tudo pelo trabalho.
As pessoas precisam parar de romantizar as relações de trabalho. Vamos falar a real: trabalho nada mais é do que a troca de uma força de trabalho (mental ou física) pelo ganho financeiro. Simples assim, o velho conceito da mais valia do capitalismo. Eu tenho o conhecimento ou a habilidade para executar algo e a empresa me paga por isso, trata-se de uma simples troca. É óbvio que as relações humanas dentro da empresa devem ser consideradas e visar o bem de ambos os lados, mas o contrato de trabalho trata-se apenas de um negócio entre duas partes interessadas. Crucificar o empregador por tomar uma decisão que é melhor e vitimizar o trabalhador é olhar essa relação de forma muito superficial e romântica!
Me pergunto: e se fosse o contrário? Quando um funcionário, que a empresa investe nele e proporciona treinamentos, pede demissão para ir para outra oportunidade de trabalho, ele também é tão crucificado e julgado? Afinal, ele teve a mesma atitude que cansamos de condenar as empresas quando demite alguém.
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