Para além do setembro amarelo nas empresas
- Virginia Motta
- 27 de set. de 2023
- 4 min de leitura

Setembro sempre é um mês muito especial para mim, além de ser o mês do meu aniversário, também é o mês dedicado a falar sobre a prevenção ao suicídio.
Casos de suicídio não é nenhuma novidade na nossa sociedade, mas o que mudou nos últimos anos é que ele está cada vez mais presentes nos canais midiáticos e nas redes sociais. Esta semana, li a triste notícia que a atleta da seleção feminina de vôlei, Waleska, se jogou do 17 andar de um prédio. Chocante? Claro. Novidade? Não. Então porque o problema não é mais discutido nas empresas, escolas, roda de amigos, etc? (todos os anos me faço essa mesma pergunta). E neste mesmo mês vários são outros casos de suicídio bem no ápice do assunto.
Muitas ações estão sendo feitas para ajudar a reduzir a taxa de suicídio e várias empresas estão adotando os programas de saúde mental para os seus colaboradores. Mas será que eles sozinhos são capazes de nos tirar do ranking dos países que possuem a maior quantidade de trabalhadores que relatam já ter sofrido algum distúrbio mental?
De acordo com o Relatório Anual do Estado Mental do Mundo, encomendado pela Sapien Labs e divulgado em março deste ano, o Brasil ocupa a terceira posição no índice de países com maior taxa de problemas relacionados à saúde mental, ficando atrás apenas da África do Sul e do Reino Unido. Sendo que a maioria dos respondentes afirmam em algum momento ter sofrido crises de ansiedade originárias do trabalho.
Particularmente gosto muito de usar exemplos e situações que passei ao longo da minha carreira e até hoje, não trabalhei em nenhuma empresa que eu não tivesse, pelo menos, um caso de colaborador com depressão, ansiedade ou estresse. Algumas dessas empresas fizeram campanhas internas no mês de setembro, outras adotaram programas de apoio e aconselhamento, também conhecidos como Programas de Saúde Mental. Mas o mais interessante que observamos era que mesmo com estas ações os casos continuam a crescer e nos perguntávamos: o que mais podemos fazer para ajudar as pessoas e garantir os resultados da empresa?
Bem, sempre sou a favor de buscar as principais causas da raiz do problema. De onde vem esta ansiedade? De onde vem esta pressão que adoece as pessoas? De onde vem o choro incontrolável no meio do expediente? Falar que está estressado ou com crise de ansiedade virou uma coisa normal. Alguns até dão dicas dos melhores remédios para ajudar nos sintomas. Mas, não podemos considerar normal ter que tomar um ansiolítico/calmante para dormir ou pedir aquele amigo para descolar aquele remedinho tarja preta milagroso. Temos que parar de normalizar que os ambientes laborais são assim mesmo e a alternativa é ir para o psicólogo ou tomar um calmante que tudo passa..
A raiz do problema pode ter várias origens dentro de uma empresa: processos desestruturados, falta de planejamento, prazos super curtos, dificuldades financeiras, ambiente tóxicos e líderes despreparados, ou seja, precisamos fazer com que o programa de saúde mental abarque todos estes aspectos e que não cuide apenas dos efeitos, mas também das causas. Ou será que vamos continuar vendo profissionais da saúde darem um atestado de 15 dias com CID de ansiedade e achar que depois desse período tudo volta ao normal?
Deixo abaixo algumas sugestões de custo "zero" para que empresas e líderes possam se atentar para este problema que é tão latente na nossa sociedade:
Promova momentos de discussão e compartilhamento de emoções. Não tenha medo de revelar suas fragilidades e declarar para as pessoas que trabalham contigo que você não está legal e está tendo dificuldade para dormir à noite e que tem crises de choro. A sua fala pode ajudar a dar coragem para outros também falarem e exporem os seus problemas. Juntos, vocês podem se ajudar e trocar experiências.
Crie o hábito de conversar com os membros da sua equipe de forma informal. Pergunte como anda a família, os filhos, a casa. Estabeleça uma relação segura e confortável para que as pessoas possam comentar sobre alguma dificuldade que estão passando.
Ao identificar situações de alta pressão dentro do trabalho, não espere para tomar uma atitude depois. Converse com a gerência e a diretoria para expor a sua preocupação e o resultado dessa pressão nas pessoas. Proponha ideias e soluções para criar válvulas de escape.
Crie momentos de celebração e de agradecimento. Ajude as pessoas a lembrarem e refletirem sobre tudo que conquistaram e o quanto elas são importantes para a empresa e para a família. Lembre elas todos os dias de agradecer pelas coisas boas que vivem ou viveram. Mude o foco do pessimismo para o positivismo.
Solicite ajuda profissional sempre que for necessário. Se sua empresa não tem condições de ter um profissional especializado em saúde mental, busque os órgãos do governo. O SUS possui vários programas destinados a esse tipo de assistência e poderá oferecer ajuda gratuita.
O Setembro Amarelo não deve ficar restrito somente ao referido mês, a preocupação em cuidar das pessoas e reduzir o índice de suicídios deve acontecer todos os dias, com pequenas ou grandes ações, mas de forma contínua.
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